JOSUÉ, HOMEM DE FÉ
Por Bruna Cruz
Numa manhã de terça-feira, fomos ao Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ) para realizarmos as primeiras entrevistas. Uma das fontes indicadas pela gestora Márcia Távora foi, justamente, nosso amigo Josué. Logo de cara, ele foi bem simpático e receptivo e se dispôs a nos contar sua história fascinante de superação, amor e fé. Nossa necessidade de contar sua história nos levou até sua casa numa tarde de sábado para conhecermos um pouco mais do seu cotidiano, principalmente o que mudou depois do seu acidente.
O supervisor de manutenção elétrica Josué Bezerra, o Juninho, 36 anos, é natural de Abreu e Lima, em Pernambuco, e veio para Fortaleza há 13 anos. Há 9, mora num pequeno e aconchegante apartamento no bairro Pajuçara com sua esposa, Luciana, e seu cachorro, Pepê. Ele sempre foi um homem muito tranquilo e dedicado ao trabalho. Porém, um ano e meio atrás, um grave acidente marcou sua vida e a de sua família.
"Eu sempre gosto de tomar a frente e fazer alguma coisa"
Na manhã de 29 de dezembro de 2016, Josué foi resolver um problema na subestação de energia da empresa onde trabalha em Maracanaú, quando o sistema explodiu e provocou um arco de fogo. Josué ficou exposto a esse arco por cerca de 7 segundos e sofreu queimaduras de 2º grau profundo em ambos os braços e próximo à virilha. Em alguns pontos, a lesão se aprofundou para 3º grau.
Josué foi levado pelo chefe a um hospital próximo, onde teve o ferimento lavado com soro fisiológico e envolto em gaze. À tarde, uma ambulância o levou até o Instituto Doutor José Frota (IJF), onde foi encaminhado ao Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) e deu início ao tratamento. Pela gravidade de suas lesões, Josué deveria passar 2 meses internado. Mas uma proposta de um novo tratamento mudou essa história. Ele foi um dos primeiros pacientes a serem tratados com o curativo biológico da pele de tilápia, que reduz a dor e o tempo de cicatrização da queimadura. As primeiras horas foram difíceis: sentiu queimação na área afetada, além de febre alta, resultado da rejeição do organismo ao curativo. Em menos de um mês, ele recebeu alta.
"Eu não imaginava que queimadura era um negócio tão grave"
Após sair do IJF, Josué foi para a casa dos pais, que prepararam um “quarto de hospital”, segundo suas palavras, com ar-condicionado e todos os medicamentos de que ele precisava. Mas quem pensou que ele iria ficar quieto, em repouso, estava enganado. A primeira coisa que Josué fez quando chegou em casa, contrariando o conselho de todos, foi pegar seu carro e ir dirigindo até a casa da sogra. Após essa extravagância, ele passou três meses sem dirigir.
Uma vez recebida a alta, o verdadeiro tratamento só estava começando. As graves queimaduras deixaram sequelas igualmente preocupantes: seus dedos sofreram atrofia e o movimento dos seus braços estava bem limitado. Foi assim que Josué chegou ao Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ) para iniciar o tratamento continuado com fisioterapia e terapia ocupacional. A pele sensível retardou a intensidade dos procedimentos, porque bolhas se formavam a cada sessão. Foi um tratamento muito lento e que exigiu muita paciência de Josué. E foi no meio dessa lentidão que nos encontramos.
Além das marcas deixadas pela queimadura, Josué tem um problema sério de pulmão e alergias, tratados com bombinhas respiratórias. Apesar de sua história ser forte e dolorosa, Josué fala que sempre encarou tudo com muita força e com um sorriso no rosto, pois conta com o amor e apoio da família e acredita no poder de cura de Deus.
"Até nessas mínimas coisinhas eu vejo a presença de Deus"
Hoje, menos de dois anos depois, ele vê seu acidente apenas como algo que já passou, uma infelicidade, que não foi capaz de incapacitá-lo, apesar de ter os movimentos das mãos ainda limitados. Ele ama sair dirigindo seu carro por aí, para viajar, para visitar a família em Pernambuco, e voltou a trabalhar na mesma empresa onde aconteceu o acidente.
Josué pretende fazer uma especialização em Mecatrônica, voltar a frequentar a igreja e a fazer trabalhos sociais, além de retornar aos palcos do teatro e a tocar seu violão. A queimadura deixou marcas, mas não limitou os sonhos desse homem forte e persistente. Seu acidente não marcou um fim, mas um recomeço em sua vida.